domingo, 23 de maio de 2010

Religião no Mundo de Hoje

Muitos ensinamentos, muitos caminhos — Encontrar a verdadeira satisfação não depende de seguir qualquer religião específica ou manter uma crença em particular. Contudo, muitas pessoas buscam a satisfação na prática religiosa ou na fé. Quando permanecemos isolados uns dos outros, às vezes ficamos com imagens distorcidas das tradições ou crenças diferentes daquelas que defendemos; em outras palavras, podemos acreditar equivocadamente que nossa religião é de alguma maneira a única válida. Na verdade, antes de deixar o Tibete e ter contato mais próximo com outras religiões e outros líderes religiosos, eu mesmo tinha idéias! Mas enfim entendi que todas as tradições têm grande potencial e podem desempenhar uma função muito importante no benefício da humanidade. Todas as religiões do mundo contêm ferramentas para lidar com nossa aspiração básica de superar o sofrimento e alcançar a felicidade. Neste capítulo, vamos examinar esses instrumentos.
Algumas religiões possuem sofisticadas análises filosóficas; outras extensos ensinamentos éticos; outras dão grande ênfase à fé. Entretanto, se observarmos os ensinamentos das grandes tradições de fé do mundo, iremos discernir duas dimensões principais da religião. Uma é a que poderia ser chamada dimensão metafísica ou filosófica, que explica por que somos do jeito que somos e por que são prescritas certas práticas religiosas. A segunda dimensão refere-se à prática da moralidade ou disciplina ética. Pode-se dizer que os ensinamentos éticos de uma tradição de fé são as conclusões amparadas e validadas pelo processo de pensamento metafísico ou filosófico. Embora as religiões do mundo tenham grandes divergências em termos de metafísica e filosofia, as conclusões a que chegam essas filosofias divergentes – ou seja, seus ensinamentos éticos – mostram um grau elevado de convergência. Nesse sentido, podemos dizer que, a despeito de quaisquer explicações metafísicas que as tradições religiosas utilizem, todas chegam a conclusões similares. De uma forma ou de outra, as filosofias de todas as religiões do mundo enfatizam o amor, a compaixão, a tolerância, o perdão e a importância da autodisciplina. Por meio do compartilhamento, do respeito e da comunicação interpessoal e intercrenças, é possível aprender a estimar as valiosas qualidades ensinadas por todas as religiões, e os instrumentos pelos quais todas elas podem beneficiar a humanidade.
Dentro de cada caminho, encontramos pessoas verdadeiramente dedicadas ao bem-estar dos outros, movidas por uma profunda noção de compaixão e amor. Ao longo das últimas décadas conheci um bom número de pessoas de tradições diversas – cristãos, hindus, muçulmanos e judeus. E em cada tradição existem pessoas maravilhosas, afetuosas, sensíveis - pessoas como Madre Teresa, que dedicou toda sua vida ao bem-estar dos mais pobres entre os pobres do mundo, e o Doutor Martin Luther King Jr., que dedicou sua vida à luta pacífica pela igualdade. É evidente que todas as tradições têm o poder de trazer à tona o melhor do potencial humano. No entanto, diferentes tradições usam diferentes abordagens.
Agora poderíamos perguntar: “Por que é assim? Por que existe tanta diversidade metafísica e filosófica entre as religiões do mundo?” Tal diversidade pode ser encontrada não só entre diferentes religiões, mas também dentro das religiões. Mesmo no Budismo – nos ensinamentos do próprio Buda Shakyamuni – ela existe. Nos ensinamentos mais filosóficos do Buda, verificamos que essa diversidade é bastante pronunciada; em alguns casos, as instruções parecem até se contradizer!
Creio que isso aponta para uma das mais importantes verdades a respeito dos ensinamentos espirituais: eles devem ser adequados ao indivíduo que está sendo ensinado. O Buda reconheceu entre seus seguidores diversos tipos de índoles mentais, inclinações mentais, inclinações espirituais e interesses, e viu que, para se adequar a essa diversidade, precisaria ensinar de forma diferenciada nos diferentes contextos. Não importa quanto um ensinamento específico possa ser poderoso ou quanto um ponto de vista filosófico seja “correto”: se não for adequado ao indivíduo que o ouve, não tem valor. Assim sendo, um professor espiritual hábil julgará a pertinência de um determinado ensinamento para um determinado indivíduo e ensinará de acordo.
Podemos traçar uma analogia com o uso dos remédios. Antibióticos, por exemplo, são imensamente poderosos; são valiosos no tratamento de uma ampla variedade de doenças, mas são inúteis na cura de uma perna quebrada. Uma perna quebrada deve ser colocada adequadamente no gesso. Além disso, mesmo nos casos em que a utilização dos antibióticos é de fato imprescindível, se um médico receitar para uma criança a mesma dose que daria para um adulto, a criança pode morrer!
Do mesmo modo, podemos ver que o próprio Buda – por ter reconhecido a diversidade de índoles mentais, interesses e inclinações espirituais de seus seguidores – deu ensinamentos de maneira diferenciada. Observando todas as religiões do mundo sob essa luz, sinto uma profunda convicção de que todas as tradições são benéficas, cada uma delas servindo de forma única às necessidades de seus seguidores.
Vamos olhar para as semelhanças de outra maneira. Nem todas as religiões postulam a existência de Deus, de um Criador; mas aquelas que o fazem destacam que o devoto deve amar a Deus de todo coração. Como poderíamos determinar se alguém ama a Deus de forma sincera? Com certeza, examinaríamos o comportamento e a atitude dessa pessoa em relação aos demais seres humanos, em relação ao restante da criação de Deus. Se alguém mostra amor e compaixão verdadeiros em relação aos irmãos e irmãs humanos, e em relação à própria Terra, acredito que podemos ter certeza de que essa pessoa demonstra verdadeiro amor por Deus. É claro que quando alguém realmente respeita a mensagem de Deus, estende o amor de Deus pela humanidade. No entanto, creio que é altamente questionável a fé de alguém que professa a crença em Deus, mas não mostra amor ou compaixão pelos outros seres humanos. Quando analisamos dessa forma, vemos que a fé genuína em Deus é um meio poderoso para se desenvolver as qualidades humanas positivas de amor e compaixão.
Vamos nos deter em outro ponto divergente das religiões mundiais: a crença em vidas passadas ou futuras. Nem todas as religiões afirmam a existência dessas coisas. Algumas, como o Cristianismo, admitem uma próxima vida, talvez no céu ou no inferno, mas não uma vida anterior. De acordo com a visão cristã, esta vida, a vida presente, foi criada diretamente por Deus. Posso muito bem imaginar que acreditar sinceramente nisso proporciona um sentimento de grande intimidade com Deus. Com certeza, ao estarmos cientes de que nossas vidas são criação de Deus, desenvolvemos uma profunda reverência por Deus e o desejo de viver inteiramente de acordo com seus propósitos, pondo em prática nosso potencial humano mais elevado.
Outras religiões ou pessoas podem enfatizar que somos todos responsáveis por tudo o que criamos em nossa vida. Esse tipo de fé também pode ser muito eficiente para ajudar a pôr em prática nosso potencial para a bondade, pois exige que as pessoas assumam total responsabilidade por suas vidas, com todas as conseqüências recaindo sobre seus ombros. Pessoas que pensam assim de modo verdadeiro vão se tornar mais disciplinadas e assumir inteira responsabilidade em praticar a compaixão e o amor. Portanto, embora a abordagem seja diferente, o resultado é mais ou menos o mesmo.
Manter sua própria tradição — Quando reflito dessa forma, minha admiração pelas grandes tradições espirituais do mundo aumenta, e posso estimar com intensidade o valor delas. É evidente que essas religiões atenderam às necessidades espirituais de milhões de pessoas no passado, continuam a fazê-lo no presente, e continuarão no futuro. Percebendo isso, encorajo as pessoas a manter sua tradição espiritual, mesmo que se interessem em aprender sobre outras, como o Budismo. Trocar de religião é um assunto sério, e não deve ser tratado levianamente. Uma vez que as diferentes tradições religiosas evoluíram de acordo com contextos históricos, culturais e sociais específicos, uma tradição pode ser mais adequada para uma determinada pessoa em um ambiente específico. Somente a pessoa sabe qual religião é mais conveniente para ela. Assim, é vital não fazer proselitismo, propagando apenas a sua própria religião, afirmando que ela é a melhor ou a que está certa.
Nesse sentido, quando ministro ensinamentos budistas para ocidentais com outra formação religiosa, em geral ma sinto um pouco apreensivo. Não é meu desejo propagar o Budismo. Ao mesmo tempo, é muito natural que, entre milhões de pessoas, algumas sintam que a abordagem budista é a mais adequada, a mais efetiva para elas. E, mesmo que uma pessoa se simpatize e chegue ao ponto de considerar a adoção dos ensinamentos budistas, ainda é muito importante examinar os ensinamentos e a decisão com cuidado. Só depois de pensar muito, refletindo e examinando, pode-se chegar à conclusão de que a abordagem budista é, no seu caso, a mais correta e efetiva.
Não obstante, acho que é melhor ter algum tipo de fé, algum tipo de crença arraigada, do que não ter nenhuma. E acredito firmemente que alguém que pensa apenas nesta vida e no ganho mundano simplesmente não consegue obter satisfação duradoura. Esse tipo de abordagem puramente materialista não trará felicidade que perdure. Quando jovem e em pleno gozo das faculdades físicas e mentais, uma pessoa pode se sentir completamente auto-suficiente e no controle, e concluir que não é necessário ter fé ou entendimentos profundos. Mas, com o tempo, as situações mudam; as pessoas ficam doentes, envelhecem, morrem. Esses fatos inevitáveis; ou talvez alguma tragédia inesperada que o dinheiro não consiga remediar, podem ressaltar a limitação dessa visão mundana. Em tais casos, uma abordagem espiritual, como a budista, pode se tornar a mais adequada.
Compartilhar as tradições — Neste mundo diversificado, com inúmeras tradições religiosas, é de grande valor para os praticantes de diferentes religiões cultivar um respeito genuíno, baseado no diálogo, pelas tradições dos outros. No começo desse diálogo, é importante que todos os participantes reconheçam de forma plena não apenas as muitas áreas de convergência entre as tradições de fé, mas, mais crucialmente, que reconheçam e respeitem as diversidades entre as tradições. Além disso, devemos analisar as causas e condições específicas que dão origem às diferentes tradições de fé – os fatores históricos, culturais, sociológicos, até pessoais, que afetam a evolução de uma religião. Em certo sentido, essas reflexões nos ajudam a perceber por que uma determinada religião surgiu. Então, tendo esclarecido as diferenças e as origens, olhamos as religiões de uma nova perspectiva, cientes de que filosofias e práticas religiosas divergentes podem ocasionar resultados similares. Ao entrar no diálogo intercrenças dessa maneira, desenvolvemos respeito e admiração verdadeiros pelas tradições religiosas dos outros.
Na verdade, existem dois tipos de diálogos intercrenças: os que acontecem em um nível puramente acadêmico, interessados em primeiro lugar nas diferenças e semelhanças intelectuais, e os que ocorrem entre praticantes autênticos de diversas tradições. Na minha experiência pessoal, esse último tipo de diálogo tem sido de grande ajuda no engrandecimento de minha valorização das outras tradições.
O diálogo intercrenças é um dos muitos modos pelos quais podemos compartilhar as tradições uns dos outros. Também é possível fazer isso realizando peregrinações e jornadas a lugares sagrados de outras tradições – e, se possível, rezando ou praticando juntos, ou participando de meditação silenciosa em grupo. Sempre que tenho oportunidade, faço visitas como peregrino aos locais sagrados de outras tradições. Embuído desse espírito, fui aos templos de Jerusalém, ao santuário de Lourdes na França e a vários lugares sagrados da Índia.
Muitas religiões advogam a paz mundial e a harmonia global. Por conseqüência, outra maneira pela qual podemos valorizar as outras religiões é vendo os líderes religiosos reunidos e os ouvindo expressar os mesmos valores, no mesmo palanque, onde estão juntos.
Desmond Tutu, o bispo da África do Sul, apontou-me uma maneira adicional pela qual podemos compartilhar a força religiosa uns dos outros: sempre que ocorre um desastre ou alguma grande tragédia no mundo, pessoas de diferentes religiões podem se unir para ajudar os que estão sofrendo, mostrando, desse modo, o coração de cada religião em ação. Creio que essa é uma grande idéia; além disso, em termos práticos, é uma oportunidade maravilhosa para pessoas de diversas tradições se conhecerem. Prometi ao bispo Tutu que nas futuras discussões sobre compartilhamento intercrenças eu mencionaria essa idéia – e agora estou cumprindo minha promessa!
Assim, existem campos para se promover o diálogo e a harmonia entre as religiões, e existem métodos. Estabelecer e manter essa harmonia é de vital importância porque sem isso as pessoas podem facilmente criar desavenças umas com as outras. No pior dos casos, surgem conflitos e hostilidade, levando ao derramamento de sangue e à guerra. Muitas vezes, algum tipo de diferença ou intolerância religiosa está na raiz de muitos desses conflitos. No entanto, supõe-se que a religião arrefeça a hostilidade, atenue conflitos e traga paz. É trágico a própria religião tornar-se outro motivo para a criação de discórdia. Quando isso acontece, a religião não tem valor para a humanidade – de fato, é prejudicial. Contudo, não creio que devamos abolir a religião; ela ainda pode ser um instrumento para o desenvolvimento da paz entre as pessoas no mundo.
Além disso, embora possamos ressaltar importantes avanços na tecnologia, e até no que chamamos “qualidade de vida”, ainda temos determinadas dificuldades que a tecnologia e o dinheiro não podem resolver: sentimos ansiedade, medo, ira, tristeza por perda ou separação. Somadas a essas dificuldades, temos muitas queixas cotidianas – eu com certeza tenho, e imagino que vocês também.
Esses são determinados aspectos fundamentais do ser humano que permaneceram inalterados por milhares, talvez milhões de anos, e serão superados somente através da paz mental. De um jeito ou de outro, todas as religiões abordam essas questões. Assim, mesmo no século XXI, as várias tradições religiosas ainda possuem um objetivo muito importante – proporcionar paz mental a seus seguidores.
Precisamos da religião a fim de desenvolver tanto a paz interior quanto a paz entre os ovos do mundo; esse é o papel essencial da religião hoje em dia. E, na busca desse objetivo, torna-se imprescindível a harmonia entre as diferentes tradições.
Aprender com outras tradições — Embora não recomende que uma pessoa abandone sua religião original, creio que o seguidor de uma tradição pode incorporar em sua prática certos métodos de transformação espiritual encontradas em outras tradições. Alguns de meus amigos cristãos, por exemplo, embora permaneçam ligados de maneira firme à sua própria tradição, incorporam antigos métodos indianos para o cultivo da unidirecionalidade da mente por meio da concentração meditativa. Também tomam emprestadas algumas ferramentas do Budismo para treinar a mente durante a meditação, visualizações relacionadas ao desenvolvimento da compaixão, e práticas que ajudam na amplitude da paciência. Esses cristãos devotos, ao mesmo tempo em que permanecem solidamente ligados à sua própria tradição espiritual, adotam determinados aspectos e métodos de outras religiões. Creio que isso é benéfico para eles, e sábio.
Essa adoção também pode funcionar na via inversa. Os budistas podem incorporar elementos do Cristianismo em sua prática – por exemplo, a tradição do serviço comunitário. Na tradição cristã, monges e freiras têm uma longa história de trabalho social, em particular nos campos da saúde e educação. O Budismo está muito do Cristianismo no fornecimento de serviço para a grande comunidade humana por meio do trabalho social. De fato, um de meus amigos alemães, também budista, observou que, ao longo dos últimos 40 anos, embora muitos mosteiros tibetanos de vulto tenham sido erguidos no Nepal, pouquíssimos hospitais ou escolas foram construídos por esses monastérios. Meu amigo comentou que, se fossem mosteiros cristãos, junto com o aumento do número deles, com certeza teria havido também um aumento no número de escolas e postos de saúde. Um budista não pode manifestar nada em resposta a uma afirmação dessas a não ser inteira concordância.
Os budistas podem aprender muito com o serviço comunitário cristão. Entretanto, alguns de meus amigos cristãos manifestam enorme interesse pela filosofia budista da vacuidade. Para esses irmãos cristãos, observei que o ensinamento da vacuidade – o ensinamento de que todas as coisas são destituídas de qualquer existência absoluta, independente – é exclusivo do Budismo, e portanto, para um cristão praticante seria sábio não se aprofundar demais nesse ensinamento. O motivo para essa cautela é que, se alguém começa a se aprofundar intensamente no ensinamento budista da vacuidade e a segui-lo com fidelidade, pode destruir a fé em um criador – um ser absoluto, independente, eterno, que, em resumo, não é vazio.
Muitas pessoas manifestam sincera reverência tanto pelo Budismo quanto pelo Cristianismo, e especificamente pelos ensinamentos do Buda Shakyamuni e de Jesus Cristo. Sem dúvida, é de grande valor desenvolver um respeito profundo pelos professores e ensinamentos de todas as religiões do mundo, e em um estágio inicial dá para ser, por exemplo, praticante budista e cristão. Mas, se a pessoa optar em seguir um caminho em grande profundeza, será necessário abraçar um caminho espiritual junto com sua metafísica subjacente.
Podemos traçar aqui uma analogia com a educação. Começamos com uma educação em bases amplas; da escola primária até talvez a faculdade, quase todas as pessoas inicialmente estudam um currículo básico semelhante. Mas, se desejarmos seguir uma especialização, quem sabe um doutorado ou alguma especialidade técnica, só podemos fazê-lo em um campo específico. Desse modo, do ponto de vista do praticante espiritual individual, à medida que se aprofunda no caminho espiritual, a prática de uma religião e uma verdade torna-se importante. Assim, ao mesmo tempo em que é fundamental toda a sociedade humana acolher a realidade de muitos caminhos e muitas verdades, para uma pessoa pode ser melhor seguir um caminho e uma verdade.

(Texto extraído da obra A Essência do Sutra do Coração, Editora Gaia, 2006.)

S.O.S VIDA HUMANA: NO PAÍS DA COPA DO MUNDO

Vivendo à margem na África do Sul
Publicada em 17/05/2010 00:00
Um ano após relatório, MSF (Médicos sem fronteira ) alerta novamente para as condições desumanas enfrentadas por migrantes e refugiados
A organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) tem expressado sérias preocupações a respeito da saúde de milhares de migrantes sobreviventes e refugiados que tentam se estabelecer na África do Sul. Violência sexual, condições de vida degradantes, agressão policial, ataques xenofóbicos e falta de acesso aos cuidados essenciais de saúde ainda definem a vulnerabilidade e o desespero vividos por milhares dessas pessoas.
MSF tem providenciado cuidados de saúde para migrantes sobreviventes e refugiados em suas clínicas em Johanesburgo e em Musina, uma cidade localizada na fronteira com o Zimbábue.
Em Musina, MSF testemunhou um aumento no número de ataques, roubos e estupros realizados por gangues violentas, ativas em ambos os lados da fronteira desde o início de 2010. MSF tratou cerca de cem sobreviventes de violência sexual nos primeiros quatro meses deste ano, 71 deles apenas do dia primeiro de março pra cá.
Enquanto providencia consultas para cerca de 2,3 mil pacientes por mês em Johanesburgo, MSF observa que seus pacientes continuam enfrentando sérios riscos de saúde relacionados às condições de vida, marcadas pela falta de higiene e pela superlotação. Enquanto alguns ainda buscam abrigo na Igreja Metodista Central, milhares de outras pessoas vivem em construções abandonadas, frequentemente sem eletricidade, água e saneamento básico, colocando em risco sua saúde e segurança.
Em junho de 2009, MSF divulgou um relatório aumentando o alarme sobre a situação perigosa de saúde das pessoas que entram e lutam para sobreviver à margem na África do Sul. Agora, quase um ano depois, a situação continua dramática e largamente ignorada.
"O que mudou para os nossos pacientes no último ano? Muito pouco. Eles ainda arriscam suas vidas quando cruzam a fronteira, os estupros realizados por gangues ocorrem em números chocantes, e, em seguida, eles ainda enfrentam as incertezas sobre o seu status no país. Muitos passam a vida em Johanesburgo, onde continuam tendo a saúde ameaçada", diz Mickael Le Paih, chefe de missão de MSF na África do Sul.
A ameaça de violência sexual, que paira sobre aqueles que atravessam a fronteira do Zimbábue, deve ser reconhecida. Essas pessoas precisam ter acesso a um estatuto formal, legalmente reconhecido no país, para que não sejam obrigadas a atravessar a fronteira ilegalmente, correndo o risco de se expor a esta violência extrema. O acesso aos abrigos de emergência e a cuidados primários de saúde devem ser assegurados aos migrantes, refugiados e sul-africanos vulneráveis que vivem em condições desumanas.
Sem acesso a cuidados básicos de saúde, segurança e abrigo, a vida dos migrantes e refugiados na África do Sul continua a ser precária e incerta.

fonte: http://www.msf.org.br/Noticia.aspx?c=1147

sábado, 22 de maio de 2010

SOS PLANETA TERRA

A vida por um fio
Notícia - 11 mai 2010

Relatório da ONU mostra que governos falharam na proteção da biodiversidade; espécies correm risco de extinção em todo o planeta
O Terceiro Panorama Global da Convenção da Biodiversidade (CBD), avaliação sobre o estado de conservação da ONU lançada ontem, mostra que os países signatários fracassaram em honrar o compromisso de salvar as espécies do mundo.
Em 2002, líderes globais se comprometeram a reduzir os índices de perda de biodiversidade em todo o mundo até 2010. Hoje, oito anos depois, um apocalipse ambiental começa a mostrar suas caras. Em 2006, a quantidade de espécies de vertebrados era um terço do número registrado em 1970. Mais de um quarto das espécies vegetais está sob perigo de extinção. E o ritmo não dá sinais de cansaço.
A Convenção da Biodiversidade da ONU trata da proteção da diversidade biológica. Mas proteção é o que menos se vê por aí. Segundo o documento, os habitats estão cada vez mais degradados, tanto em extensão quanto em integridade, e espécies que já estavam ameaçadas estão mais perto do fim. “A CBD deveria ser chamada de Convenção da Vida: é a vida de todas as espécies, inclusive da humana, que está em debate. O fracasso das metas mostra que não temos mais tempo a perder”, afirma Paulo Adario, diretor da campanha da Amazônia do Greenpeace.
As tradicionais ameaças às florestas tropicais persistem: o gado e as plantações destinadas à produção de alimentos e biodiesel provocam o desmatamento em larga escala. “Os principais agentes da perda da biodiversidade em escala global estão, eles sim, 'protegidos' por políticos e governos”, diz Adario. “É o caso do Brasil onde a bancada da motosserra conspira para mudar o código florestal e reduzir a política de proteção ambiental que o país levou anos para construir”. No mundo, houve significativa diminuição da perda de florestas tropicais e de manguezais e a criação de áreas protegidas, mas não em escala suficiente para garantir a preservação de espécies ameaçadas.
Há muito a fazer. A iminente perda drástica de biodiversidade pode causar efeitos em cadeia. Na Amazônia, por exemplo, a soma do desmatamento e das queimadas, aliada às mudanças climáticas, pode levar toda a floresta a uma morte generalizada, em um círculo vicioso de incêndios e secas.
No quadro revelado pela CBD, a humanidade demonstra operar na contramão da sua própria existência. A biodiversidade sustenta o funcionamento dos ecossistemas, que prestam serviços à sociedade. “Falar de biodiversidade não é falar de ‘bichinhos’ ou de ‘plantinhas’, mas da vida neste planeta azul. Para interrompermos essa perda, precisamos de ação imediata, e não de palavras bonitas”, explica o diretor.
O Greenpeace defende a formação de uma rede global de áreas protegidas – terrestres e marinhas – e políticas nacionais coerentes com a proteção da vida. Essas áreas protegidas servem também de proteção ao clima, já que a destruição do patrimônio ambiental, principalmente das florestas, tem grande peso no aumento das emissões de gases que geram aquecimento global.

Fonte: greepeace

quarta-feira, 19 de maio de 2010

CULTURA CABALISTICA

SAFED, A CIDADE SAGRADA

Afastada dos principais centros turísticos de Israel, Jerusalém e Tel Aviv, e relativamente pouco conhecida pelos turistas que visitam o país, a cidade de Safed tem uma importância histórica fundamental tanto como centro intelectual e religioso do judaísmo, quanto como sede judaica pré-sionista em Eretz Israel. Junto com Jerusalém, Hebron e Tibérias, Safed é uma das quatro cidades sagradas de Israel.
Um viajante iemenita que a visitou em 1567 ficou impressionado com o intenso fervor espiritual que reinava na cidade naquela época:
"Eu penetrava na cidade e via que a Presença Divina estava estabelecida em seu seio, porque lá vivia uma grande comunidade de 14 mil membros. Dispunha de 18 yeshivoth consagradas ao aprofundamento do Talmud. Lá vi a luz da Torá, e para os judeus havia esplendor; eles ultrapassavam as outras comunidades, eram a glória das glórias e tinham aberto uma brecha nas fronteiras da sabedoria: entre eles não havia ignorantes."
Safed exerce até hoje este mesmo impacto sobre o visitante judeu. Em cada canto revivem memórias queridas ao nosso povo e repletas de esplendor espiritual.
Já a estrada para alcançar a cidade, entre moshavim e kibutzim arborizados, casas bonitas e montanhas recobertas de oliveiras e videiras, inebria o coração de tanta beleza: com o coração aberto afloram à memória nomes e figuras dos mestres que lá viveram, sinagogas e yeshivot em que rezavam, estudavam e ensinavam, túmulos em que descansam seus restos mortais. Conhecer estes lugares e defrontar-se com a memória que evocam causa uma impressão profunda e marcante.
Safed é indiscutivelmente o principal centro da Cabala, tornando-se depois um importante centro chassídico.
É a cidade principal da Alta Galiléia, situada em posição privilegiada a 850 metros de altura, ao norte de Tiberíades e ao leste de Acre. Tem por volta de 17 mil habitantes; sua economia é baseada principalmente no turismo e lazer, explorando suas belezas naturais e seu clima montanhoso, deliciosamente seco e fresco durante os meses de verão.
Na Cidade Velha o pitoresco bairro dos artistas, onde residem, trabalham e expõem numerosos pintores e escultores, é uma grande atração turística com suas galerias e exibições.
Passar um Shabat na cidade é uma experiência inesquecível. Na sexta-feira há muita animação e movimento nas ruas, as pessoas estão apressadas, o transito de ônibus e carros e o barulho são intensos e por todo lado há gente comprando flores, frutas e presentes para seus familiares. Com o aproximar-se do Shabat, o silêncio e a paz descem sobre as ruas e sente-se no ar a chegada do dia de repouso. De repente, o silêncio é rompido e volta a haver movimento nas ruas. As pessoas agora não estão mais apressadas. A passos majestosos se dirigem às sinagogas. Desfila uma multidão variada e heterogênea: chassidim vestindo chapéus de pele e mantos pretos de seda, sabras usando camisas com o colarinho aberto, pais de família conduzindo seus filhos pela mão, turistas provenientes de vários países. Todos se cumprimentam com um caloroso e cordial Shabat Shalom e seus rostos irradiam alegria.
Durante a reza de Cabalat Shabat o espírito de várias gerações de sábios está presente no ar e todos participam dessa experiência mística.
No antigo bairro judeu, preservaram-se até hoje seis sinagogas antigas, duas de Rav Isaac Luria: a primeira, pertencente à comunidade sefaradita, data do séc. XVI; a segunda, ashquenazita, foi restaurada após o terremoto de 1837. Outras sinagogas famosas são as de Rav Yosef Ha-Bannai, Rav Josef Caro e Rav Isaac Aboab.
Além da visita das sinagogas, os túmulos dos grande mestres cabalistas enterrados em Safed são lugar de assídua peregrinação e fonte de constante inspiração para os judeus de Israel e da diáspora. Na cidade também encontram-se vários banhos rituais que remontam a 200-500 anos atrás.
A cidade não é mencionada na Bíblia. Provavelmente se identifica com o povoado de Sepph citado pelo historiador Josephus. No Talmud Yerushalmi é mencionada como um dos lugares altos dos quais eram acesas fogueiras para enviar sinais que anunciavam o Rosh Chodesh (Lua Nova) e as festividades durante o período do Segundo Templo. Após a destruição deste, lá se estabeleceram algumas famílias de sacerdotes.
Até a época das Cruzadas, não temos mais notícias da cidade, que reapareceu em 1140, sob o nome de Saphet, como fortaleza construída pelo rei Fulk de Anjou. Em 1188 foi ocupada por Saladin. Reconquistada pelos Cavaleiros da Ordem dos Templários em 1240, passou das mãos dos Cruzados às do sultão Mameluk Baybars em 1266. Este aumentou suas fortificações e nela estabeleceu o quartel-general de sua província que se estendia à Galiléia e ao Líbano.
A presença judaica em Safed é documentada desde meados do século XI e continuou a florescer nos séculos seguintes sob a proteção do governo de Mameluk.
Seguindo a expulsão dos judeus da Espanha (1492), a cidade recebeu um fluxo notável de refugiados e atraiu inúmeros rabinos e intelectuais judeus.
Na época da conquista otomana, em 1516, Safed contava 300 famílias judias de sefaradim, ashquenazim e italianos que viviam principalmente do comércio de especiarias, azeite, queijo, frutas e verduras.
Em meados do século XVI a cidade viveu um grande florescimento espiritual, uma certa prosperidade econômica, e um crescimento da população judaica (716 famílias), tornando-se o maior centro do misticismo judaico.
Entre as figuras de maior destaque lembramos o Rabi Josef Caro (1488-1575), grande codificador, que redigiu o Schulchan Aruch, obra de referencia do judaísmo religioso. Caro foi também um grande cabalista, e nesse ponto se situa a especificidade de Safed, denominada "a cidade da Cabala", pois lá viveram os maiores místicos de Israel. Os cabalistas valorizavam uma experiência mais íntima e mais profunda do judaísmo, inalcançável, a seu ver, pelo caminho da razão e do intelecto.
Os principais cabalistas de Safed são Rabi Moisés Cordovero (1522-1570), escritor dos mais ricos e fecundos de toda a literatura judaica, que fez um grande trabalho de síntese do sistema cabalista do seu tempo, e a grande figura de Rabi Isaac Luria Askenazi (1534-1572), denominado Ha-Ari, cujo sistema filosófico complexo era destinado a um pequeno círculo de iniciados. Ele introduziu no universo da mística judaica o conceito de Tzimtzum (contração da Luz Divina no momento do ato da criação), quem sabe uma espécie de termo cabalista que antecipa a teoria do "Big Bang" do séc. XX.
Os ensinamentos de Luria, que não deixou nada escrito, foram transmitidos até nós através da obra do seu maior discípulo, Rabi Chaim Vital, com seu Sefer Etz Ha-Hayim (Livro da Árvore da Vida). Este trabalho foi muito divulgado na Europa durante todo o século XVII e foi traduzido também para o latim.
Também foi em Safed que em 1573 os irmãos ashquenazim estabeleceram a primeira tipografia de livros judaicos não só de Israel como do Oriente Médio todo. Eles trouxeram consigo da cidade de Lublin seus aparelhos de imprimir, suas chapas, seus tipos e suas decorações.
Durante o século XVII, com o declínio gradual do governo turco, as condições econômicas da comunidade judaica começaram a se deteriorar. Inicialmente a queda do padrão de vida não afetou o nível espiritual e a cidade contava com 21 sinagogas e 18 escolas.
Mas a decadência avançou rapidamente no final do séc. XVII, agravada por uma epidemia e um terremoto que dizimaram a população da cidade. Após o desastre, grande parte dos sobreviventes partiu.
A situação da comunidade judaica de Safed só melhorou no final do século XVIII, com o estabelecimento de um governo mais estável na Galiléia e com uma nova onda migratória originária da Europa Oriental. Em 1778 se estabeleceram em Safed 300 chassidim, discípulos do Rabi Israel Ben Eliezer Baal Shem Tov e liderados pelo Rabi Menachem Mendel de Vitebsk, e em 1810 vieram os discípulos de Rabi Eliahu Gaon de Vilna. As lutas entre os beduínos e uma nova epidemia causaram um outro êxodo de judeus, especialmente rumo a Jerusalém.
Durante o século XIX a população de Safed conheceu vários altos e baixos, que culminaram com o terremoto de 1837 em que morreram cinco mil pessoas, delas quatro mil judeus. A comunidade judaica, que contava 1.500 pessoas em 1839, viu-se reduzida a meras 400 pessoas em 1845. Em seguida o governo turco beneficiou a cidade e novos imigrantes afluíram levando a população judaica a 2.100 pessoas em 1856, 6.620 em 1895 e onze mil em 1913.
Com a Primeira Guerra Mundial a cidade, que vivia da ajuda que recebia da Europa, viu-se cortada de sua fonte de sustento e a população foi dizimada pela fome e pelas doenças.
Em 1918 foi ocupada pelas tropas britânicas do general Allenby. Durante o mandato britânico as condições dos judeus de Safed se deterioraram novamente e eles passaram a ser menos de dois mil dos doze mil habitantes da cidade.
Após a Guerra de Independência, em 1948, a cidade foi ocupada pelas forças do Palmach e a população árabe se retirou.
Safed se torna desde então uma cidade judia que recupera rapidamente sua identidade espiritual e mística. A memória judaica de quase mil anos que a cidade preserva, volta a viver graças à força e ao valor do estudo e da fé.

Bibliografia

1. M. Michalson, Y. Slomon, M. Milner, "Mekomot Kedoshim U Kivrei Tzadikim Be Eretz Israel". Defense Ministry, 1996.
2. Rabbi Moise Cordovero, "Le Palmier de Debora", collection "Les Dix Paroles", Verdier 1985
3. Laurent Cohen, "Safed: beauté et l’esprit", Tribune Juive Nº 1397, 6 mars 1997
4. Enciclopédia Judaica: Safed
5. E. Barnavi, M. Eliau Feldon, M. Opatowiski, "A Historical Atlas of the Jewish People", Schocken Books, New York
6. Michael Shapiro, "The Jewish 100", "Isaac Luria".
7. I. Gutwirth, "The Kabalah and Jewish Misticism".

Retirado do site:http://www.morasha.com.br/

DECLARAÇAO UNIVERSAL DOS DIREITOS DOS ANIMAIS

A Declaração Universal dos Direitos dos Animais foi proclamada pela UNESCO em 15 de Outubro de 1978.
PREÂMBULO
- Considerando que todo o animal possui direitos;
- Considerando que o desconhecimento e o desprezo destes direitos têm levado e continuam a levar o homem a cometer crimes contra os animais e contra a natureza;
- Considerando que o reconhecimento pela espécie humana do direito à existência das outras espécies animais constitui o fundamento da coexistência das outras espécies no mundo;
- Considerando que os genocídios são perpetrados pelo homem e há o perigo de continuar a perpetrar outros;
- Considerando que o respeito dos homens pelos animais está ligado ao respeito dos homens pelo seu semelhante;
- Considerando que a educação deve ensinar desde a infância a observar, a compreender, a respeitar e a amar os animais;
PROCLAMA-SE O SEGUINTE:
Artigo 1º
Todos os animais nascem iguais perante a vida e têm os mesmos direitos à existência.
Artigo 2º
1. Todo o animal tem o direito a ser respeitado.
2. O homem, como espécie animal, não pode exterminar os outros animais ou explorá-los violando esse direito; tem o dever de pôr os seus conhecimentos ao serviço dos animais.
3. Todo o animal tem o direito à atenção, aos cuidados e à protecção do homem.
Artigo 3º
1. Nenhum animal será submetido nem a maus tratos nem a actos cruéis.
2. Se for necessário matar um animal, ele deve ser morto instantaneamente, sem dor e de modo a não provocar-lhe angústia.
Artigo 4º
1. Todo o animal pertencente a uma espécie selvagem tem o direito de viver livre no seu próprio ambiente natural, terrestre, aéreo ou aquático e tem o direito de se reproduzir.
2. Toda a privação de liberdade, mesmo que tenha fins educativos, é contrária a este direito.
Artigo 5º
1. Todo o animal pertencente a uma espécie que viva tradicionalmente no meio ambiente do homem tem o direito de viver e de crescer ao ritmo e nas condições de vida e de liberdade que são próprias da sua espécie.
2. Toda a modificação deste ritmo ou destas condições que forem impostas pelo homem com fins mercantis é contrária a este direito.
Artigo 6º
1. Todo o animal que o homem escolheu para seu companheiro tem direito a uma duração de vida conforme a sua longevidade natural.
2. O abandono de um animal é um acto cruel e degradante.
Artigo 7º
1. Todo o animal de trabalho tem direito a uma limitação razoável de duração e de intensidade de trabalho, a uma alimentação reparadora e ao repouso.
Artigo 8º
1. A experimentação animal que implique sofrimento físico ou psicológico é incompatível com os direitos do animal, quer se trate de uma experiência médica, científica, comercial ou qualquer que seja a forma de experimentação.
2. As técnicas de substituição devem ser utilizadas e desenvolvidas.
Artigo 9º
1. Quando o animal é criado para alimentação, ele deve ser alimentado, alojado, transportado e morto sem que disso resulte para ele nem ansiedade nem dor.
Artigo 10º
1. Nenhum animal deve de ser explorado para divertimento do homem.
2. As exibições de animais e os espectáculos que utilizem animais são incompatíveis com a dignidade do animal.
Artigo 11º
1. Todo o acto que implique a morte de um animal sem necessidade é um biocídio, isto é um crime contra a vida.
Artigo 12º
1. Todo o acto que implique a morte de grande um número de animais selvagens é um genocídio, isto é, um crime contra a espécie.
2. A poluição e a destruição do ambiente natural conduzem ao genocídio.
Artigo 13º
1. O animal morto deve ser tratado com respeito.
2. As cenas de violência de que os animais são vítimas devem ser interditas no cinema e na televisão, salvo se elas tiverem por fim demonstrar um atentado aos direitos do animal.
Artigo 14º
1. Os organismos de protecção e de salvaguarda dos animais devem estar representados a nível governamental.
2. Os direitos do animal devem ser defendidos pela lei como os direitos do homem.
Copyright Centro Vegetariano. Reprodução permitida desde que indicando o endereço: http://www.centrovegetariano.org/Article-98-Declara%25E7%25E3o%2BUniversal%2Bdos%2BDireitos%2Bdos%2BAnimais.html

A Escravidão Está Na Mente

Radha Burnier
Presidente Intenacional da Sociedade Teosófica

Uma bem conhecida sentença em um dos Upanishads, afirma que a mente, por si só, é causa, tanto da escravidão, como da libertação do homem. A maioria das pessoas acreditam que está presa pelas circunstâncias e agem como se fossem vítimas, porque não compreendem as forças e condições existentes em torno delas. O homem primitivo, que observava o relâmpago e o trovão, o desaparecimento do sol e a descida da escuridão sobre a terra e vários outros fenômenos, sentia-os como ameaças e que ele devia apaziguar os deus e, para isso, recorrer a feiticeiros, aprender encantamentos, erigir colunas totêmicas e fazer todo tipo de coisas para afastar o mal que ele acreditava pudesse sobrevir. Os mesmos fenômenos, vistos pelo homem moderno, não geram nele mais o medo, porque o conhecimento o fez compreender as leis e forças operando por detrás dos fenômenos.
Há uma teia de forças na natureza que cria as condições nas quais as pessoas vivem. Elas incluem forças como a gravidade, a eletricidade e o magnetismo. O homem sabe como essas forças funcionam e é capaz de predizer as condições que serão criadas. Pode controlar as circunstâncias em torno dele, alterando e regulando tais leis. O conhecimento habilita-o a mudar as condições e a não considerar a si mesmo como vítima delas. Esta é a posição do homem agora em relação àquela parte do mundo fenomênica que passou a compreender.
Vôos à Lua e comunicação através de satélites com distantes partes da terra são maneiras de conquistar o ambiente. Mas o conhecimento do homem, mesmo agora, pertence a um campo muito limitado. Os homens brilhantes que podem manipular a natureza e neutralizar as forças de gravidade, etc., são também vítimas das circunstâncias no campo psicológico. A ignorância torna-os temerosos e inseguros e tão escravizados pelas forças interiores, quanto o homem primitivo o era em relação às forças externas, físicas. No campo psicológico também, as forças criam as condições e aquele que quiser ser livre e destemido, deve compreender as leis que operam. Uma das três grandes verdades proclamadas no livro “O Idílio do Lótus Branco”, declara: “CADA HOMEM É SEU ABSOLUTO LEGISLADOR, O DISPENSDOR DE GLÓRIA OU ESCURIDÃO PARA SI MESMO, O DECRETADOR DE SUA VIDA, RECOMPENSA E PUNIÇÃO”.
Em outras palavras, cada homem cria as condições ao seu redor, o seu carma. A escravidão nada mais é senão a prisão construída pelas forças-cármicas que cada um cria. A escrividão diz-se estar no ciclo de nascimentos e mortes, a compulsão para o sofrer. São modos diferentes de afirmar a mesma coisa.
A maioria das pessoas acredita que pode escapar das conseqüências de seus atos, mentais e físicos. Existem algumas que reconhecem, pelo menos teoricamente, que não é possível escapar das conseqüências das forças que liberam, mas não crêem realmente nisso. Se acreditassem no carma, seriam extremamente cuidadosas acerca de tudo o que fazem, o que pensam e sentem, seu relacionamento com as outras pessoas e assim por diante. A fraqueza da crença é tornada evidente pela negligência na conduta. È possível escapar às conseqüências de um ato no mundo físico durante o curso de uma vida. No caso de uma pessoa que rouba, ela pode ser presa imediatamente ou sua falta pode permanecer encoberta durante muito tempo; mas não pode escapar dos resultados indefinidamente, pois “os moinhos de Deus moem lentamente”, trituram até pedaços extraordinariamente pequenos. No entanto, o que é mais sério não é a descoberta do roubo e a pessoa ser presa, mas o efeito da conseqüência imediata no campo psicológico.
Aquele que engana outra pessoa e pensa que pode ir embora, ilude-se dolorosamente. Muitas pessoas encobrem fatos ou os deturpam ao relatá-los, pretendendo serem diferentes do que são. Não é raro se mostrar uma face diferente sob circunstâncias diferentes. Tudo isso acontecem porque no fundo da mente há um sentimento de que se pode escapar. Na verdade, porém, há um efeito imediato quando há qualquer ação. Quando há um ato de enganar, dá surgimento a um certo “momento” na psique da pessoa. Esta é a a imediata, mas invisível conseqüência. Há muitas coisas na psique que não são percebidas. Há as memórias conscientes e também as inconscientes. Se você encontra alguém a quem não vê ou na qual você não pensa há anos em sua mente consciente, pode não haver memória dessa pessoa, se ela é desta ou daquela maneira. Tudo desaparece. Posteriormente você a encontra e a reconhece. Esse reconhecimento significa que, embora a mente consciente não mantivesse nenhuma memória, a inconsciente manteve-a e essa recordação veio à superfície. O reconhecimento implica em comparar como agora ela aparece, seu comportamento, seus gestos, etc.
Contudo, há memórias mais profundas. As pessoas têm recordações da infância que estão além da lembrança, exceto sob hipnose ou em momentos de crise. Atrás do limiar da memória consciente há toda um área, como um iceberg oculto. Se a energia é liberada na psique, o “momento” também pode submergir abaixo do nível consciente. Quando há uma oportunidade adequada, ele consegue manifestar-se. Por exemplo, quando uma ação é fraudulenta, como dissemos antes, um “momento” é criado, que pode estar oculto e dormente, abaixo do nível consciente. Num determinado instante, transforma-se num impulso para fazer o mesmo tipo de coisa. Isto torna-se um círculo vicioso, de escravidão; a ação que cria a tendência, a tendência que impele à ação, seja ela de fraude, medo ou inveja, ou uma mistura de vários tipos.
No ser humano existem inúmeras tendências “empurrando” a pessoa indiretamente, queira ou não, saiba ou não. Quando uma pessoa sofre de timidez ou medo, cada sombra a faz sentir que pode haver um inimigo oculto. Quando há orgulho, um homem imagina que há intenção de ofendê-lo, mesmo diante de uma afirmação inocente a seu respeito. Além disso, a mente inconsciente conecta o sentimento com características externas pertencentes a outra pessoa, de quem o perigo ou o insulto é pensado decorrer. Assim, as pessoas têm reações compulsivas contra negros ou brancos, judeus, etc. e contra todos os tipos de coisas. “Momento”, tendências e compulsões vêm à tona no campo da ação, não apenas do passado recente mas das profundezas até de nossa natureza animal. A maioria das pessoas age de acordo com esse profundo condicionamento.
Enquanto há compulsão de dentro, um “momento” sobre o qual não há
Controle, não há liberdade de modo algum. É a escravidão que a mente cria, porque está num estado de não apercebimento, já que não se dá ao trabalho de descobrir o que está acontecendo a si mesma.
Os condicionamentos da mente criam enormes problemas – de cor, nacionalismos, diferenças raciais, etc. Por causa desse condicionamento existente, ela identifica-se com a família, a comunidade, a religião, etc. Mas a mente pode libertar-se se vê que está criando círculos dentro dos quais está escravizada. Não é necessário que alguém seja vítima de qualquer circunstância. Em lugar de criar “momentos” de insinceridade ou medo através do não-apercebimento, a pessoa pode gerar outras energias, tais como paciência, afeição e calma. Estas regras surgem através do apercebimento e têm uma qualidade de estabilidade. Não são reações.
Atrás da vigilância e do cuidado exercidos na vida diária, a pessoa pode começar a perceber o que é o estado de liberdade. Dentro da mente há possibilidades de escravidão, como de liberdade. Não se tem de rezar a algum Deus, encontrar um sacerdote, para libertar a si mesmo, mas apenas descobrir o que está profundamente no interior. O Bhagavad Gita fala do homem estável, que não é dependente, porque as circunstâncias não têm poder sobre ele. Isto é o que todos os seres humanos têm de aprender. Pela ativa vigilância, a pessoa cessa de ser vítima das condições e torna-se uma fonte de energia espiritual.
* * *
AHINSA
Ahinsa é uma qualidade positiva e dinâmica de amor universal, e não uma simples atitude de não violência. Aquele que a desenvolve, vive rodeado de uma invisível aura carregada de amor e compaixão, embora não os expresse ao nível emocional.
Uma vez que o amor é o poder que liga em união espiritual a todos os fragmentos separados da vida una, qualquer indivíduo imbuído de semelhantes amor, está internamente afinado com todas as criaturas viventes e, automaticamente, as inspira em confiança e amor.

Retirado do site:http://www.sociedadeteosofica.org.br/ em 19/05/2010